Desculpas esfarrapadas
Ele retornou à sua casa por volta das 3h 15min da madrugada de quinta para sexta. Era uma madrugada típica de outono, uma brisa rasteira e “chiada” que ignorava qualquer casaco rompia a pele. A rua diante dele, deserta e estática, somente algumas folhas voando. Ele chegou com o carro na “banguela” para não fazer barulho e estacionou na rua mesmo. Não quis entrar na garagem para não fazer barulho. As mãos grandes e com poucos pêlos foram até o retrovisor central e inclinaram o espelho para baixo, ele estava buscando marcas em seu pescoço, mas também sabia que não poderia demorar muito ali. Estava tudo certo, mas o gosto do sexo da outra permanecia na sua boca, em seu casaco, em sua pele. Deveria tomar um outro banho? Ele não parava de se perguntar. Retirou a chave da ignição de seu “utilitário” e desceu quase que sorrateiramente. Não bateu a porta, encostou e depois empurrou; o alarme foi acionado pela chave na porta. Começou a andar pela calçada em passadas largas, porém cuidadosas. Olhava para um lado e para o outro tentando confirmar se algum vizinho estava espionando.
Ao chegar próximo da porta, ele relembrou a desculpa dita à sua esposa. Um jantar de negócios em outra cidade em uma quinta era formidável, ninguém iria suspeitar, até porque ele havia orientado a sua secretária para dizer a todos a desculpa inventada. A bolsa retirada do carro estava repousando no chão e ele parado, com a chave de casa na mão, pensando sobre o que acontecera. Ele estava prestes a abandonar sua família e ir embora, mas como a coragem estava lhe faltando, acabou brigando com o motivo de sua vida dúbia. A outra, por querer datas, pressionou até que ele desorientado pôs tudo por água abaixo e decidiu voltar para casa. A outra, em prantos, ficou assistindo o infame vestir suas roupas e tecer seus comentários mal-acabados. Ele apenas virou-se e saiu dizendo barbaridades, coisas que a outra nunca havia ouvido sair daquela boca.
Ele ainda estava com as chaves na mão, quando ouviu um barulho vindo de dentro de sua casa. Escondeu, imediatamente, suas chaves dentro do bolso da calça social azul-marinho e foi para o lado de sua residência. A respiração estava ofegante, parecia um cavalo após uma corrida no Jockey Club. Ficou a espreita, atento para ver se sua mulher havia notado sua presença. O medo era notório, pois ele ainda não tinha decidido o que falar sobre o regresso repentino. Sua esposa esperava que o marido chegasse à noite de sexta-feira. Intermináveis minutos, seus olhos percorriam a vizinhança e ainda tomava conta das janelas e da porta da frente. Naquele exato instante, ele pensou como estava sendo injusto com aquela que jurou fidelidade e amor eterno. Um ser frágil e que sempre foi submissa às suas vontades. Ele lembrou do amor que a esposa carregava por ele, e de tudo que sempre fez para ficar ao seu lado.
Passados vinte minutos, ele tomou coragem e já sabia o que dizer. Diria que o cliente adiou o jantar em cima da hora e que somente conseguiu aquele vôo, pois queria voltar o mais rápido para casa. Excelente, ele ficava repetindo em sua cabeça, excelente. Uma vez que ninguém havia aparecido e o barulho tinha sido momentâneo, ele começou a andar com certa dose de coragem e arrependimento. A chave entrelaçou em seus dedos, em sua mão, mas ele conseguiu introduzir na fechadura e destravar a porta. Como poderia ter feito uma coisa dessas com uma mulher incapaz de um ato falho comigo? Uma mulher que sempre esteve ao meu lado, mesmo eu não estando? Enquanto abria a porta vagarosamente, aquele homem do casamento havia voltado, estava mais forte e rejuvenescido. Abaixou-se e desamarrou os sapatos de uma grife famosa. A casa possuía dois andares, um porão e uma garagem externa. Ele tirou suas roupas, evidências com a fragrância de outra, e ficou apenas e cueca e meias. Levou as peças até o cesto de roupas e misturou com as outras. Estava disposto a tomar um banho na suíte do quarto ao lado do seu e depois ir beijar suavemente sua mulher. Contaria a desculpa pronta estilo fast food e esqueceria o que viveu. Começou a subir as escadas, pé ante pé, e começou a escalada. Deveria ser liso para não criar barulhos e acordar a esposa. A porta de seu quarto era a última e a porta ao lado era da suíte que desejava. Foi rastejando os pés, como quem patina no gelo, para que não fizesse barulho e chegando à porta do quarto ao lado, ele escutou um grito abafado como quem quer matar alguém asfixiado. Ele estava ali, parado, o que fazer? Entrar para ver o que estava acontecendo e defender sua mulher, se preciso fosse, ou entrar e tomar uma chuveirada para tirar o gosto do pecado? O que fazer? A mulher boa e dedicada, ótima dona de casa poderia estar precisando de ajuda. O que fazer? Ele suou nas mãos como quem vai cometer um assalto. O grito abafado se repetiu por duas longas vezes e ele entrou arremessando a porta branco-gelo de maçaneta dourada contra a parede salmão do quarto.
Do jeito que entrou parou perplexo. O seu corpo caiu feito boneco de pano e foi ao chão bruscamente. Um infarto fulminante atestava aquele óbito, enquanto um homem moreno desengatava da mulher que ainda preservava a posição “de quatro” e mantinha o travesseiro na boca para abafar os gritos.
Ela ainda manteve um choro lento e sincero ao lado do falecido, mas de mãos dados com o homem moreno, enquanto a polícia chegava. Este disse à polícia que é vizinho e escutou o barulho e veio prestar socorro à família.
Mais tarde a secretária pôs tudo para fora e contou o que realmente havia ocorrido com aquele homem. Contou de seu caso extraconjugal e tudo mais que poderia desabonar a conduta daquele moribundo. O que ficou apenas para a esposa foi a ciência das escapadas do marido, mas o que aconteceu para ele voltar mais cedo? De certo, nada é segredo para uma mulher. Homem se julga superior, mas não consegue segurar o “tranco” da volta.
Ele retornou à sua casa por volta das 3h 15min da madrugada de quinta para sexta. Era uma madrugada típica de outono, uma brisa rasteira e “chiada” que ignorava qualquer casaco rompia a pele. A rua diante dele, deserta e estática, somente algumas folhas voando. Ele chegou com o carro na “banguela” para não fazer barulho e estacionou na rua mesmo. Não quis entrar na garagem para não fazer barulho. As mãos grandes e com poucos pêlos foram até o retrovisor central e inclinaram o espelho para baixo, ele estava buscando marcas em seu pescoço, mas também sabia que não poderia demorar muito ali. Estava tudo certo, mas o gosto do sexo da outra permanecia na sua boca, em seu casaco, em sua pele. Deveria tomar um outro banho? Ele não parava de se perguntar. Retirou a chave da ignição de seu “utilitário” e desceu quase que sorrateiramente. Não bateu a porta, encostou e depois empurrou; o alarme foi acionado pela chave na porta. Começou a andar pela calçada em passadas largas, porém cuidadosas. Olhava para um lado e para o outro tentando confirmar se algum vizinho estava espionando.
Ao chegar próximo da porta, ele relembrou a desculpa dita à sua esposa. Um jantar de negócios em outra cidade em uma quinta era formidável, ninguém iria suspeitar, até porque ele havia orientado a sua secretária para dizer a todos a desculpa inventada. A bolsa retirada do carro estava repousando no chão e ele parado, com a chave de casa na mão, pensando sobre o que acontecera. Ele estava prestes a abandonar sua família e ir embora, mas como a coragem estava lhe faltando, acabou brigando com o motivo de sua vida dúbia. A outra, por querer datas, pressionou até que ele desorientado pôs tudo por água abaixo e decidiu voltar para casa. A outra, em prantos, ficou assistindo o infame vestir suas roupas e tecer seus comentários mal-acabados. Ele apenas virou-se e saiu dizendo barbaridades, coisas que a outra nunca havia ouvido sair daquela boca.
Ele ainda estava com as chaves na mão, quando ouviu um barulho vindo de dentro de sua casa. Escondeu, imediatamente, suas chaves dentro do bolso da calça social azul-marinho e foi para o lado de sua residência. A respiração estava ofegante, parecia um cavalo após uma corrida no Jockey Club. Ficou a espreita, atento para ver se sua mulher havia notado sua presença. O medo era notório, pois ele ainda não tinha decidido o que falar sobre o regresso repentino. Sua esposa esperava que o marido chegasse à noite de sexta-feira. Intermináveis minutos, seus olhos percorriam a vizinhança e ainda tomava conta das janelas e da porta da frente. Naquele exato instante, ele pensou como estava sendo injusto com aquela que jurou fidelidade e amor eterno. Um ser frágil e que sempre foi submissa às suas vontades. Ele lembrou do amor que a esposa carregava por ele, e de tudo que sempre fez para ficar ao seu lado.
Passados vinte minutos, ele tomou coragem e já sabia o que dizer. Diria que o cliente adiou o jantar em cima da hora e que somente conseguiu aquele vôo, pois queria voltar o mais rápido para casa. Excelente, ele ficava repetindo em sua cabeça, excelente. Uma vez que ninguém havia aparecido e o barulho tinha sido momentâneo, ele começou a andar com certa dose de coragem e arrependimento. A chave entrelaçou em seus dedos, em sua mão, mas ele conseguiu introduzir na fechadura e destravar a porta. Como poderia ter feito uma coisa dessas com uma mulher incapaz de um ato falho comigo? Uma mulher que sempre esteve ao meu lado, mesmo eu não estando? Enquanto abria a porta vagarosamente, aquele homem do casamento havia voltado, estava mais forte e rejuvenescido. Abaixou-se e desamarrou os sapatos de uma grife famosa. A casa possuía dois andares, um porão e uma garagem externa. Ele tirou suas roupas, evidências com a fragrância de outra, e ficou apenas e cueca e meias. Levou as peças até o cesto de roupas e misturou com as outras. Estava disposto a tomar um banho na suíte do quarto ao lado do seu e depois ir beijar suavemente sua mulher. Contaria a desculpa pronta estilo fast food e esqueceria o que viveu. Começou a subir as escadas, pé ante pé, e começou a escalada. Deveria ser liso para não criar barulhos e acordar a esposa. A porta de seu quarto era a última e a porta ao lado era da suíte que desejava. Foi rastejando os pés, como quem patina no gelo, para que não fizesse barulho e chegando à porta do quarto ao lado, ele escutou um grito abafado como quem quer matar alguém asfixiado. Ele estava ali, parado, o que fazer? Entrar para ver o que estava acontecendo e defender sua mulher, se preciso fosse, ou entrar e tomar uma chuveirada para tirar o gosto do pecado? O que fazer? A mulher boa e dedicada, ótima dona de casa poderia estar precisando de ajuda. O que fazer? Ele suou nas mãos como quem vai cometer um assalto. O grito abafado se repetiu por duas longas vezes e ele entrou arremessando a porta branco-gelo de maçaneta dourada contra a parede salmão do quarto.
Do jeito que entrou parou perplexo. O seu corpo caiu feito boneco de pano e foi ao chão bruscamente. Um infarto fulminante atestava aquele óbito, enquanto um homem moreno desengatava da mulher que ainda preservava a posição “de quatro” e mantinha o travesseiro na boca para abafar os gritos.
Ela ainda manteve um choro lento e sincero ao lado do falecido, mas de mãos dados com o homem moreno, enquanto a polícia chegava. Este disse à polícia que é vizinho e escutou o barulho e veio prestar socorro à família.
Mais tarde a secretária pôs tudo para fora e contou o que realmente havia ocorrido com aquele homem. Contou de seu caso extraconjugal e tudo mais que poderia desabonar a conduta daquele moribundo. O que ficou apenas para a esposa foi a ciência das escapadas do marido, mas o que aconteceu para ele voltar mais cedo? De certo, nada é segredo para uma mulher. Homem se julga superior, mas não consegue segurar o “tranco” da volta.
7 comentários:
Caramba. Aquele tipo de texto que você não consegue parar de ler. A respiração vai seguindo a estória e você espera ensiosamente o fim.
Confesso que já imaginava que ela estaria tendo um caso.
Pois é, as mulheres sabem muito mais do que se imagina. Mas ainda assim, algumas coisas jamais terão respostas, até pra nós.
Adorei, viu?
Um beijão,
Kari
Ela com certeza não iria ter um infarto se o pegasse traindo.
Ai, como os homens são sensíveis...
rsrsrs :D
Beijo enorme.
ps: grande³ escritor!!
Quem com ferro fere um dia será ferido! Que coisa!
Tô boba!! Uma situação inimaginável para a minha lenta cabecinha! (rs*) Beijus
Claro que fez todo sentido o que comentasse no meu blog!
Adorei! Me fez sorrir! Obrigada por me proporcionar a isso, viu?
E sim, "felicidade é ter um monte de amigos e não ter limites para amar."
Agradeço a Deus todos os dias pelos meus amigos, sabia? E pelos amigos que, cada dia Ele me dá através do blog!
Um beijão pra tu
e valeu por tudo!!!!
Muito bom! Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção.
Lembrei-me de uma crônica do Veríssimo em que o marido perde a aliança ao trocar o pneu. Sabendo que a mulher não ia acreditar que aquilo tinha realmente acontecido, chega em casa e conta que estava com a amante e que queria o divórcio.
A esposa, a princípio esbravece, mas depois, resignada, aceita passar uma borracha na história.
Tão bom vir aqui e matar essa necessidade de leitura.
Bjos
Muito bom! Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção.
Lembrei-me de uma crônica do Veríssimo em que o marido perde a aliança ao trocar o pneu. Sabendo que a mulher não ia acreditar que aquilo tinha realmente acontecido, chega em casa e conta que estava com a amante e que queria o divórcio.
A esposa, a princípio esbravece, mas depois, resignada, aceita passar uma borracha na história.
Tão bom vir aqui e matar essa necessidade de leitura.
Bjos
Alexandre, você fez um comentário tão legal lá no "Luz", que deu vontade de estampar pra todo mundo! Amei! :-)))) Beijus
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