Poucos são os confetes varridos no salão
Nosso drama diário não nos permite sentar no meio-fio. Nosso drama burguês nos toma o tempo absurdamente, o que diria Nelson?
Nossa vida sem poesia, sem tempo, mas com pressa. Nossa vida de e-mails e as cartas apaixonadas ficaram esquecidas com as histórias de nossos avôs. Niguém mais espera ansiosamente a chegada do carteiro. Aquele homem amigo, aquele homem sorridente, que corria do cachorro, que comprimentava a vizinha, que “bicava”a bola da garotada. Niguém mais tem tempo para nada. E a garotada?
Cadê a infância de bola de meia? De futebol na rua, na esquina, no terreno, no campinho... Cadê a rua de paralelepípedos? Cadê aqueles moleques descalços... Ronaldos, Robertos, Geovanis... Cadê?
Ninguém senta mais às 18 na varanda da casa e descasca uma laranja. Comer laranja tem que se lambuzar. Tem que deixar escorrer o caldo. Tem que fazer de conta que a mão também é um enorme bagaço.
Nossa juventude não repara no gramado da casa e muito menos rolam entre arbustos e moitas. Niguém sabe o que é... o que signifiga plantar...
Nossa juventude tem medo de galo, de porco, de burro, de cavalo, de boi, de vaca, de cobra, de aranha... tem medo da própria sombra.
Nossa juventude não repara no vento balançando a árvore. Ninguém conhece o barulho do vento... ninguém conhece o cheiro de chuva, o cheiro da mata, aliás, mal se conhecem.
Nossa juventude fica muito em casa. É internet, é videogame, é superinformação, é conhecimento, é alienação.
Nossa juventude de mãos cheia de calosidades de controles... controle do videogame, controle da televisão, do ar-condicionado, do rádio do carro... controle de nós mesmos.
Ninguém sabe o que é um baile em plena Rio Branco! Aliás, somente os cariocas sabem. Aquela multidão ao ar livre, sem medos, sem preconceitos, sem maldades.
Antigamente nós éramos menos maldosos, para não dizer inocentes.
Certa vez, minha mãe para me assustar, disse que as ciganas roubavam as crianças debaixo de suas saias. Aliás, as ciganas de Madureira eram mais ciganas, tinham mais balagandãs.
Qualquer ser-humano que se preste conhecem Madureira, mas não essa cheia de assaltos. Aquela que ficou na paz de nossa memória. Madurreira da Portela, do Império e do Mercadão. Madureira das ruas povoadas e do povo guerreiro e eu criado no Méier sempre que minha mãe podia me levava lá.
Mas nosso drama é mais forte. Nossa juventude é refém do intusiasmo idiota americano. Ninguém varre mais os quintais ou pedem fiado na venda do seu “Manel”.
Comprar fiado é comer hoje o que somente amanhã teremos o desprazer de pagar. Mas se não tiver dinheiro “Seu Manel” pendura por mais um mês. Sem juros. Naquela época valia mais a palavra do que a multiplicação do dinheiro. Aliás, a conta no caderno, a venda fiada é o avô do cartão de crédito. Cartão não tem graça. Muitos pagam, mas outros deixam o nome sujar por que palavra mais não há.
A juventude virou produto do meio e em fevereiro a Portela tem muito risco em descer, pois tem paulista e gringo no samba. Entenderam?
Surgiram os carnezinhos e as pessoas pagam durante o ano, mas quando chega o dia do desfile ninguém sabe cantar, se quer, o samba. Fora o gringo que chega ao Rio... Primeiro ela é assaltado. Depois vai de encontro com o comércio do sexo, da prostituição, das drogas... E tratamos muito bem esses visitantes, pois eles financiam nosso caos. Mais tarde compram fantasias, lugares em carros alegóricos, frisas, arquibancadas, camarotes, cervejas, refris, e minha escola quase desce. Desce porque eles não cantam, não sabam, e querem é mais festejar do que sambar.
Niguém sabe mais os sambas. Quando eu digo os sambas é porque no passado as letras eram maravilhosas e os “Cartolas”, os “Betos”, “Ataulfos”, e tantos mais escreviam com o coração o que viam. Hoje é uma onda de “Ia-iá”, “Io-io”. O samba perdeu a compostura. Perdeu o ritmo. Dizem que ainda se parecem com marchinhas carnavalescas... Ora ora! Não façam isso...
Nossas marchinhas em maravilhosas e cheias de sabedoria.
Sofremos todos de displasia compulsiva aguda. Mãos e dedos, cabeça e corpo.
Enquanto nossos “Chicos”, nossos “Caetanos”, nossos “Paulinhos”...
Que Deus os Consevem assim.
(Hallais, Alexandre – Rio de janeiro, 06 de fevereiro de 2006)
Nosso drama diário não nos permite sentar no meio-fio. Nosso drama burguês nos toma o tempo absurdamente, o que diria Nelson?
Nossa vida sem poesia, sem tempo, mas com pressa. Nossa vida de e-mails e as cartas apaixonadas ficaram esquecidas com as histórias de nossos avôs. Niguém mais espera ansiosamente a chegada do carteiro. Aquele homem amigo, aquele homem sorridente, que corria do cachorro, que comprimentava a vizinha, que “bicava”a bola da garotada. Niguém mais tem tempo para nada. E a garotada?
Cadê a infância de bola de meia? De futebol na rua, na esquina, no terreno, no campinho... Cadê a rua de paralelepípedos? Cadê aqueles moleques descalços... Ronaldos, Robertos, Geovanis... Cadê?
Ninguém senta mais às 18 na varanda da casa e descasca uma laranja. Comer laranja tem que se lambuzar. Tem que deixar escorrer o caldo. Tem que fazer de conta que a mão também é um enorme bagaço.
Nossa juventude não repara no gramado da casa e muito menos rolam entre arbustos e moitas. Niguém sabe o que é... o que signifiga plantar...
Nossa juventude tem medo de galo, de porco, de burro, de cavalo, de boi, de vaca, de cobra, de aranha... tem medo da própria sombra.
Nossa juventude não repara no vento balançando a árvore. Ninguém conhece o barulho do vento... ninguém conhece o cheiro de chuva, o cheiro da mata, aliás, mal se conhecem.
Nossa juventude fica muito em casa. É internet, é videogame, é superinformação, é conhecimento, é alienação.
Nossa juventude de mãos cheia de calosidades de controles... controle do videogame, controle da televisão, do ar-condicionado, do rádio do carro... controle de nós mesmos.
Ninguém sabe o que é um baile em plena Rio Branco! Aliás, somente os cariocas sabem. Aquela multidão ao ar livre, sem medos, sem preconceitos, sem maldades.
Antigamente nós éramos menos maldosos, para não dizer inocentes.
Certa vez, minha mãe para me assustar, disse que as ciganas roubavam as crianças debaixo de suas saias. Aliás, as ciganas de Madureira eram mais ciganas, tinham mais balagandãs.
Qualquer ser-humano que se preste conhecem Madureira, mas não essa cheia de assaltos. Aquela que ficou na paz de nossa memória. Madurreira da Portela, do Império e do Mercadão. Madureira das ruas povoadas e do povo guerreiro e eu criado no Méier sempre que minha mãe podia me levava lá.
Mas nosso drama é mais forte. Nossa juventude é refém do intusiasmo idiota americano. Ninguém varre mais os quintais ou pedem fiado na venda do seu “Manel”.
Comprar fiado é comer hoje o que somente amanhã teremos o desprazer de pagar. Mas se não tiver dinheiro “Seu Manel” pendura por mais um mês. Sem juros. Naquela época valia mais a palavra do que a multiplicação do dinheiro. Aliás, a conta no caderno, a venda fiada é o avô do cartão de crédito. Cartão não tem graça. Muitos pagam, mas outros deixam o nome sujar por que palavra mais não há.
A juventude virou produto do meio e em fevereiro a Portela tem muito risco em descer, pois tem paulista e gringo no samba. Entenderam?
Surgiram os carnezinhos e as pessoas pagam durante o ano, mas quando chega o dia do desfile ninguém sabe cantar, se quer, o samba. Fora o gringo que chega ao Rio... Primeiro ela é assaltado. Depois vai de encontro com o comércio do sexo, da prostituição, das drogas... E tratamos muito bem esses visitantes, pois eles financiam nosso caos. Mais tarde compram fantasias, lugares em carros alegóricos, frisas, arquibancadas, camarotes, cervejas, refris, e minha escola quase desce. Desce porque eles não cantam, não sabam, e querem é mais festejar do que sambar.
Niguém sabe mais os sambas. Quando eu digo os sambas é porque no passado as letras eram maravilhosas e os “Cartolas”, os “Betos”, “Ataulfos”, e tantos mais escreviam com o coração o que viam. Hoje é uma onda de “Ia-iá”, “Io-io”. O samba perdeu a compostura. Perdeu o ritmo. Dizem que ainda se parecem com marchinhas carnavalescas... Ora ora! Não façam isso...
Nossas marchinhas em maravilhosas e cheias de sabedoria.
Sofremos todos de displasia compulsiva aguda. Mãos e dedos, cabeça e corpo.
Enquanto nossos “Chicos”, nossos “Caetanos”, nossos “Paulinhos”...
Que Deus os Consevem assim.
(Hallais, Alexandre – Rio de janeiro, 06 de fevereiro de 2006)
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